sábado, 26 de abril de 2008

Alcançando Deus através da arte

Por Augusto Erthal

“O homem foi criado para ter um relacionamento perfeito com Deus, mas por causa de sua desobediência e rebeldia, escolheu seguir seu próprio caminho e seu relacionamento com Deus se desfez”, diz o folheto das 4 Leis Espirituais, que prossegue: “O homem está continuamente procurando alcançar a Deus e a vida abundante através de seus próprios esforços”. Apesar de muitos de nós usarmos este folheto diariamente, deixamos de perceber que a arte, para além da “vida reta, boas obras, religião, filosofias, etc.” é uma das primeiras formas pela qual se tentou alcançar a Deus.

A arte nasce ligada ao espiritual. Músicas e danças embalaram os primeiros cultos e rituais. A escultura era usada para representar os mais diversos deuses. As pinturas adornavam templos e cavernas. As estórias e a literatura difundiam os mais diversos mitos. Mesmo após a ruptura que a revolução francesa causa entre arte e religião, o objetivo maior da criação artística era alcançar a perenidade, isto é, que a obra se tornasse eterna e que o artista se imortalizasse junto com ela. Atualmente a arte contemporânea descartou a perenidade, porém abraçou a transcendência, utilizando a arte como um portal para outras realidades. Através dos séculos a arte continuou ligada a busca espiritual, por mais inconsciente que essa busca possa ser.

Ken Gire diz em seu livro Janelas da Alma que: “Deus estendeu os céus, pontilhando a noite com as estrelas de forte impressionismo. Estabeleceu o sol pelo ritmo do dia, a lua, pelo ritmo do mês, as estações pelo ritmo do ano. Fez soprar o vento sobre os pântanos recobertos de junco e soou os tambores do distante trovão. Moldou à semelhança de uma porção de barro sua imagem e nela soprou vida. Criou para esse barro sua cara-metade a fim de completar a semelhança, unindo as duas metades e colocando-as no centro de sua criação, onde ocorreram uma tentação e uma queda, onde ambos se perderam feio e se esconderam quanto puderam. Deus procurou o casal escondido, desejando recuperá-los e trazê-los para perto de si, apesar de ambos não terem consciência disso naquele momento. Depois deles, Deus procurou os seus filhos e os filhos de seus filhos. Depois ainda escreveu a história dessa sua busca. Ao fazer tudo isso, Deus nos deu a arte, a música, a escultura teatro e a literatura. Ofereceu tudo isso como trilhas que nos levam para fora de nossos esconderijos, com sinalizações que nos conduzem em sua busca pelo que foi perdido. Moldados por elementos da terra e do céus, ficamos divididos entre dois mundos. Uma parte de nós desejava esconder-se. A outra desejava buscar algo. Com uma lembrança incompleta de palavras ainda legíveis em nosso coração e com imagens desbotadas ainda visíveis em nossa alma, alguns de nós saíram do esconderijo e começaram busca. Ainda que mal soubéssemos onde procurar. Pintamos para visualizar se o que se perdeu estava na pintura. Compusemos para ouvir se estava na música. Esculpimos para descobrir se estava na pedra. Escrevemos para descobrir se estava na história. Com a arte, a música e as histórias, buscamos o que estava faltando em nossa vida. Embora às vezes mal soubéssemos. Embora, por vezes, mal conseguíssemos deixar de saber. O poeta alemão Rilke trata um desses momentos em uma fábula. As mãos de Miguelângelo esculpiam e “levantavam a pedra como se levanta uma sepultura, de onde uma voz fraca e moribunda tremula. ‘Miguelângelo’, bradou Deus apreensivo, ‘quem está na pedra?’ Miguelângelo ouvia atento; as mãos tremiam. Então respondeu com voz abafada: ‘Tu, meu Senhor, quem mais poderia ser? Mas não consigo te alcançar’”. Alcançamos a Deus de muitas maneiras. Pela escultura e pela escrita. Pela pintura e pela oração. Pela literatura e pela adoração. E por todos esses meios Deus nos alcança.”

A comprovação bíblica das palavras de Gire se encontra em Êxodo 31: 1-6, um texto base para todas as incursões cristãs pela arte. É Deus quem nos unge com o dom artístico, e devemos exercê-lo para que são sejamos como o servo mau da parábola de Jesus em Lucas 19: 11-26, que enterrou o seu talento.

Em uma visão contemporânea da arte, ter talento não é pintar paisagens ultra-realistas, ou escrever versos parnasianos, mas expressar em uma diferente linguagem aquilo que se sente. Independente de qual seja nossa linguagem de maior afinidade: poética, musical, plástica, teatral, etc. todos sabemos nos expressar através de uma delas, e este é o talento que Deus deu a cada um de nós como meio de alcançá-lo. Não enterre esse talento, explore-o, multiplique-o, e alcance a Deus através da arte!

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